No palco, a superação Imprimir
Escrito por Administrator   
Sex, 10 de Junho de 2011 19:18

 

Depois do espetáculo e das fotografias com a platéia, ainda cheio de tinta no rosto – afinal, acabara de representar o personagem Lunático – o ator Róbson de Oliveira nos contou um pouco de sua história

 

Trinta e quatro anos, trabalhador de uma lanchonete e estudante teatro desde janeiro. Os desafios de ter uma vida comum, mesmo com Síndrome de Down, Robson supera todos os dias. A mãe, Marinete Felix de Oliveira, que assistiu na plateia a todo o espetáculo, fala orgulhosa de quando o filho começou a trabalhar “nunca imaginei na minha vida, foi um sonho pra mim”.

Depois de passar por outras instituições voltadas para o desenvolvimento de pessoas com Síndrome de Down, há alguns anos Marinete resolveu levar o filho à Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) em Fortaleza, por ser a única instituição na época que possibilitava a prática de esportes. Na APAE, Robson fez cursos preparatórios para o mercado de trabalho e foi encaminhado para ser funcionário da lanchonete da Secretaria de Desenvolvimento Social em 2008, “lá eu lavo os pratos, atendo os clientes, faço caldo”.

Dentro da secretaria existe o Laboratório de Inclusão, que realiza oficinas de teatro voltadas às pessoas com Acessibilidade Dificultada (AD). Em janeiro, Robson começou a freqüentar a oficina. “Estou realizando o meu sonho fazendo teatro”, conta. Em todas as sextas do mês de maio, o rapaz se apresentou no Teatro Morro do Ouro – um anexo do Teatro José de Alencar – com o grupo Teatro da Acessibilidade.

A mãe orgulhosa fala que na família “todo mundo gosta dele”, até os sobrinhos que moram em Brasília e tem pouco contato com o tio, “(quando Robson foi para Brasília) os sobrinhos andaram em todo canto de Brasília com ele, adoraram, tiraram tanto retrato”, nos fala Dona Marinete, empolgada.

Robson foi o primeiro filho e tem três irmãos. “Quando ele nasceu eu não sabia (o que era síndrome de down), na época quase não tinha essas informações (...) tive um choque muito grande”, explica Dona Marinete. E completa “hoje tiro de letra, quando vou para um canto que eu vejo o pessoal olhando, eu encaro, e pronto, a pessoa se treme e muda de vista”, comenta a mãe com um sorriso no rosto.

 

Teatro da Acessibilidade

Sobre o palco, um sofá verde e uma menina de vestido amarelo. “Cadê você, Neco?”, diz ela, enquanto tateia o chão à procura de seu brinquedo. Assim começa a peça Miralú e a Luneta Encantada. O espetáculo infantil conta a história de uma menina com miopia muito forte, quase cega, que “faria tudo para enxergar”.

O Teatro da Acessibilidade, composto, em parte, por atores com algum tipo de deficiência, leva ao palco a discussão da acessibilidade. O texto é de Fernando Lira e a direção é de Amidete Aguiar.

O grupo foi formado a partir de oficinas de teatro realizadas pelo laboratório de inclusão, da secretaria de desenvolvimento social. A diretora explica que no laboratório eles usam o termo AD, acessibilidade dificultada, para designar pessoas com deficiência visual, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, síndrome de down, dentre outros.

Mas ter algum tipo de AD não é pré-requisito para participar. O Teatro da Acessibilidade “é um grupo de pessoas diferentes e, trabalhando dentro dessa diferença, a gente busca a não deficiência”, conta Amidete, e ressalta a importância deste tipo de trabalho ser levado ao público “como é que o fator da inclusão vai ser visto se a gente não faz ver?”, questiona.

A diretora do espetáculo reivindica também o acesso à estrutura física do teatro, que não está preparado para receber qualquer tipo de AD. Um cadeirante, por exemplo, não tem acesso fácil ao Teatro José de Alencar – onde foram as apresentações de Miralú e a Luneta Encantada no mês de maio. Amidete conclui “às vezes a gente é empatado pela deficiência, mas a deficiência daqueles que se dizem normais”.


Confira o vídeo do espetáculo:


 

Iane Parente
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Última atualização em Dom, 12 de Junho de 2011 18:08